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Demissões de técnicos no futebol brasileiro

  • Matheus Monteiro
  • 13 de jul. de 2017
  • 6 min de leitura

“Futebol é resultado”. Não existe frase que explique melhor o que é ser técnico de futebol no Brasil do que essa. Já é de conhecimento da maioria dos amantes do futebol que o futebol brasileiro é disparado o lugar mais instável para ter uma profissão como essa. A pressão diária por resultados e a falta de análise do real desempenho das equipes ocasiona uma série de demissões e faz com que o Brasil seja conhecido como uma máquina de trituradora de treinadores de futebol, só no campeonato brasileiro deste ano já tivemos 9 mudanças de treinadores em apenas 12 rodadas disputadas.

Por muitas vezes gestores e cartolas não possuem um aspecto essencial em uma estrutura de futebol, que é a convicção em suas escolhas. Em algumas situações a demissão ocorre por um erro de avaliação inicial, as contratações são feitas apenas por um conhecimento prévio da carreira do treinador escolhido, não existe uma escolha por metodologia de treinos, predileção tática e muito menos uma escolha que se baseie na tradição de futebol de um clube. Cada clube deve saber reconhecer seu “DNA” de futebol, identificar o seu modo exclusivo de jogar e que se adeque aos jogadores do atual elenco.

Na última semana tivemos duas demissões de treinadores que entram para a péssima estatística de demissões em massa no Campeonato Brasileiro com as rescisões contratuais de Rogério Ceni no São Paulo FC e de Vagner Mancini na Chapecoense. Cada um tem motivos de sobra para reclamar de falta de apoio e péssimos planejamentos de ambas as diretorias. No caso de Ceni, foi contratado no fim de 2016 após ficar um ano se preparando na Europa com pequenos cursos e semanas de estágios com alguns técnicos de ponta como Jorge Sampaoli que atualmente é o técnico da seleção Argentina. Chegou ao São Paulo com muita confiança por parte dos torcedores devido ao seu grande histórico como jogador do clube e ser reconhecido como o maior ídolo do tricolor paulista. Desde o início de sua trajetória o eterno ídolo do Morumbi prometeu construir seu time com ideias novas que tinha acabado de aprender, sempre buscando ter um time ofensivo, com muita posse de bola e que soubesse controlar o jogo. Na pré-temporada na disputa da Flórida Cup o início foi animador com algumas mudanças táticas em relação ao time do ano anterior e o bom aproveitamento de alguns jogadores da base como Luiz Araújo, Araruna e Rodrigo Caio e com bons desempenhos nos jogos contra River Plate e contra o rival Corinthians.

(Foto:divulgação)

Ceni passou uma semana observando os treinos de Jorge Sampaoli

No primeiro jogo oficial da equipe as dificuldades naturais de uma competição já deram as caras e a equipe perdeu para o bem treinado Audax de Fernando Diniz, no decorrer do campeonato o time foi demonstrando as características prometidas pelo treinador, mas dava claros sinais de desiquilíbrio entre a defesa e o ataque com o time terminando o Campeonato Paulista como a 3ª defesa mais vazada da competição. A situação foi se agravando e além de ter uma defesa vulnerável o time passou a ser ineficiente no ataque e teve um déficit de desempenho com a lesão do camisa 10 Cueva, culminando com a eliminação de três campeonatos em sequência, pelo Corinthians na semifinal do estadual, pelo Cruzeiro na fase eliminatória da Copa do Brasil e pelo pequeno Defensa y Justicia da Argentina pela Copa Sul-Americana.

Esse péssimo desempenho não deve cair apenas nas costas de Rogério e dos jogadores, mas sim pelo péssimo planejamento feito pela diretoria São Paulina que prefere ser orgulhar de ser uma boa vitrine de venda de jogadores do que dos resultados do time em campo. O grupo comandando pelo presidente eleito Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, alcançou a incrível marca de 23 jogadores negociados desde o fim da temporada de 2016, a lista de saídas inclui nomes importantes que faziam parte do time titular como o zagueiro Maicon vendido ao Galatasaray da Turquia, o volante Thiago Mendes e o jovem atacante Luiz Araújo ambos vendidos ao Lille da França, mesmo com as chegadas de alguns bons jogadores como Lucas Pratto, Jonathan Gomez e Petros é praticamente impossível se criar e manter uma ideologia de jogo com tantas mudanças no elenco no decorrer da temporada.

Foto: (AFP / EITAN ABRAMOVICH)

Ceni saiu com 49,5% de aproveitamento, sendo 37 jogos, 14 vitórias, 13 empates e 10 derrotas

A situação da Chapecoense é diferente e deve ser analisada com aspectos que vão além do futebol. Após a dramática tragédia vivida com a queda do avião que levava a delegação do time que iria disputar a final da Copa Sul Americana de 2016, a equipe perdeu quase que a totalidade de seu elenco e membros da diretoria, sendo obrigada a fazer um grande trabalho de reconstrução para ter condições de disputar a temporada de 2017.

Com eleição do novo presidente e a escolha de Rui Costa para comandar o departamento de futebol, a equipe iniciou uma importante fase de sua reconstrução que era a montagem de um elenco completo de jogadores após apenas Jackson Follmann, Alan Ruschel e o zagueiro Neto terem sobrevivido ao acidente e não terem condições de jogar futebol tão cedo. O nome escolhido para ser o novo treinador da equipe foi o de Vagner Mancini, experiente treinador com passagens por equipes grandes do futebol brasileiro que aceitou o árduo desafio de participar da remontagem do time.

(Foto: Divulgação)

O técnico substituiu Caio Júnior que foi uma das vítimas do trágico acidente

Com a ajuda de alguns clubes que cederam alguns jogadores por empréstimo e a contratação de outros, a equipe anunciou um número inicial de 37 novos jogadores, o número bastante elevado se deu por conta da grande quantidade de jogos e campeonatos que a equipe disputaria ao longo do ano, participando do Campeonato Catarinense, Copa do Brasil, Copa Libertadores, Campeonato Brasileiro, Recopa Sul-Americana e o convite feito pelo Barcelona para a disputa do troféu Joan Gamper.

(Foto: Alexandre Schneider/Getty Images)

O técnico conquistou o título estadual e conseguiu “classificar” o time na fase de grupos da Libertadores

Dentro da qualidade que o elenco apresentava o início foi bom, com time conquistando o título estadual e somou o número de pontos suficiente para passar de fase na Libertadores( foi desclassificado por escalação de um jogador irregular). Com a perda do título da Recopa para o Atlético Nacional e a eliminação na Copa do Brasil para o Cruzeiro só restava à equipe fazer uma campanha digna no campeonato brasileiro, já que um desempenho razoável de meio de tabela seria o suficiente para considerar a temporada um sucesso no âmbito esportivo após o terrível acidente que dizimou o time da temporada anterior.

O início da campanha no Brasileirão foi bom, com equipe chegando a liderar a competição por algumas rodadas, mas no decorrer dos jogos o desempenho naturalmente foi caindo com confrontos contra equipes muito mais fortes e de orçamento muito maior que a Chape, fazendo com que a equipe catarinense tivesse a defesa mais vazada da competição com derrotas duras como o 6 a 3 para o Grêmio na Arena Condá e a goleada de 5 a 1 sofrida para o Flamengo fora de casa, apesar de ser uma estatística alarmante, era uma situação que poderia ser ajustada sem a necessidade de demissão do treinador que vinha alcançando até então os principais objetivos da temporada.

Esses tipos de casos só mostram a falta de convicção nas escolhas dos dirigentes, e o quanto é mais importante o resultado recente do que o a formação e preparação de toda uma pré- temporada e todo o trabalho de maturação de uma equipe durante a temporada. Os técnicos apesar de muitas vezes sofrerem injustiças com seus trabalhos sendo interrompidos, também não podem ser vistos apenas como vitimas já que assim que aparece uma oportunidade de tomar conta do lugar do companheiro de profissão eles aceitam e não tem o mínimo de ética ao aceitar receber sondagens de equipes que já possuem um profissional trabalhando no cargo.

Umas das principais mudanças para dar fim a essa dança das cadeiras seria a regulamentação da profissão criando mecanismos que protejam e exijam uma melhor formação por parte dos técnicos. O debate sobre essas demissões é antigo e longo e enquanto a classe de treinadores permanecer desunida e preocupada apenas com seus cargos, a solução vai estar cada vez mais longe.


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